Diálogo mais ou menos imaginário #2

Esse é imaginário, mas parecido com ele já aconteceu comigo e, tenho certeza, com você também!

_ Hum... Quem era no telefone pra você dar esse tchau tããão comprido?

_ Hã?

_Hã nada. Conta pra mamãe vai. Era homem?

_ Era um amigo.

_ Ah sei, um amigo. E qual o nome desse amigo?

_ Lúcio.

_ Ele é bonito?

_ Ah, ele é alto, moreno claro, usa cavanhaque...

_ Ele é ou não é bonito?

_ Ele tem um sorriso bonito, cabelo preto, liso, um pouco grisalho...

_ Ih, ele é velho?

_ Ele tem 41.

_ Xiii, aposto que é separado.

_ Duas vezes.

_ E tem filho?

_ Uma filha.

_ Ai meu Deus, filha!

_ Mãe, o que é que tem que o cara tem uma filha? Só por isso ele tem que ficar em casa e não pode mais se relacionar com ninguém? Além do mais ele é só um amigo, não precisa se preocupar.

_ Ué, se ele é só um amigo por que você tá defendendo?

_ Mãe, a gente ta se vendo, não é nada sério. Eu não tô apaixonada...

_ Ah, sei. E eu não te conheço? Você fala isso agora, quero ver daqui uma semana. Vai ta por aí falando “Ai mãe, esse é diferente!”.

_ O que vai ter pra jantar?

_ Peraí! Ele é bonito pelo menos?

_ Já falei, ele é alto, moreno cla...

_ Xi... É feio! Se você não falou que ele é bonito é porque é feio. Deve ser um monstrinho.

_ Eita! Se a sua preocupação é garantir netos bonitinhos, fique tranqüila, a combinação é boa. Ele é magro...

_ Magricela?

_ Não mãe, eu disse magro, não disse esquelético.

_ Ah ta. E esse seu amigo... Como ele chama mesmo? Faz o que?

_ Ele é fotógrafo. Jornalista. Foto-jornalista, fotógrafo que trabalha com jornalismo.

_ E ele ganha bem?

_ Já ganhou, agora o mercado ta meio retraído.

_ Xi... Além de velho e magricela é pobre.

_ ...

_ To brincando filhinha, eu sei que pra você dinheiro não significa nada. Você nem gosta de
ganhar! E você odeia tanto dinheiro que vive gastando o meu e do seu pai, assim ele some logo.

_ Mãe, eu não to apaixonada, não vou casar, não vou trazer o cara pra morar com você. Qual é sua preocupação?

_ Credo. Como você é impaciente! Eu sou sua mãe. Mas tudo bem, você não quer que eu faça parte da sua vida, eu nunca mais vou perguntar nada.

_ Então tá combinado?

_ Não se preocupe Roberta!

Sete segundos e quinze centésimos de segundos depois...

_ E ele é legal?

_ Ele é engraçado.

_ Palhaço?

_ Não mãe, ele tem um humor inteligente, refinado.

_ Ih, já vi tudo. Deve ser um desses intelectuais que acham que sabem tudo.

_ Mãe, ele não é intelectual. É um cara culto porque é vivido, viajado.

_ Então ele nem fez faculdade?

_ Não foi isso o que eu disse.

_ Ele se formou em quê?

_ Ele fez dois anos de medicina e depois foi fazer filosofia.

_ Roberta, minha filha, pula fora. Esse cara pelo jeito gosta de pular de galho em galho não tem
estabilidade... Xiiii.

Por motivos de repetitividade materna ilimitada e em respeito aos leitores, interrompemos o diálogo por aqui.