5.12.05

A borboleta saiu do casulo e não sabia pra onde voar (Ou “Uma das manifestações da depressão”)

Então, finalmente ela havia encontrado o namorado ideal. O que deveria ser o final feliz, ainda que não definitivo, de um flerte previsível entre dois gêneros da mesma espécie, era apenas o começo de seus problemas.
Tendo passado tanto tempo ocupada para parecer atraente, parecer engraçada, parecer independente, parecer espirituosa que conseguiu tudo o que queria: parecer.
Não seria a coroação da felicidade suprema, um bom emprego, um bom apartamento, um namorado atencioso, atraente, inteligente e refinado?
Mas... De onde ela extrairia a satisfação pura da vida? É possível que nossa derrotina tenha o prazer de cantar por que o instante existe e sua vida está completa? Conseguiria, ela se sentir realizada quando a materialização do príncipe encantado estivesse a mais de dez passos de distância? Ter consciência da própria existência através da existência do outro. Um princípio tão elementar da psicanálise e tão inerente à condição humana convertera-se na essência absoluta do existir.
Um pouco insegura ainda, mas já começa a suspeitar-se a namorada perfeita: nem tão linda, compensava com seu guarda-roupa de maníaco-depressiva. Sempre guardava um estoque de chistes premeditados para evitar com charme os assuntos sobre os quais nada sabia. Sensível e carinhosa sempre fora, não era preciso parecer.
Depois de uma contínua metamorfose de 27 anos, ela deixava o casulo, uma adorável borboleta, incapaz de voar sem que fosse para submeter-se à apreciação alheia. E o que deveria ser a deixa para que a gata borralheira arrebatasse o coração do príncipe encantado era na verdade... Não, de fato ela arrebatara o coração do príncipe encantado. Era o fim de seus problemas. E o começo de um imenso vazio.

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